Uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis) ocorre no Nordeste do Brasil, do Ceará até Alagoas — Foto: Ciro Albano
Você já ouviu falar no uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis)? Apesar de "dividir" o nome popular com outras aves, repare bem no nome científico: estamos falando de uma subespécie de uru que, como o nome indica, é nativa da região nordeste do Brasil.
Pequena e com um topete que aparece ao se defender de ameaças, essa ave tem características muito particulares e enfrenta um grande problema: pode estar com seus dias contados. Estimativas apontam que em até dez anos pode ser extinta na natureza.
- Uru ou uru-do-nordeste (Odontophorus capueira)
Está presente em toda a área leste do Brasil, do Nordeste ao Sul, além das áreas fronteiriças de Paraguai e Argentina; - Odontophorus capueira capueira
Subespécie que ocorre do leste do Brasil até o leste do Paraguai e no nordeste da Argentina; - Odontophorus capueira plumbeicollis
Subespécie que ocorre na região tropical do Nordeste do Brasil, dos estados do Ceará até o estado de Alagoas
Endêmico do nordeste, ocorre nos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, mas com registro atual apenas no Ceará e Paraíba — Foto: Livro Vermelho da Fauna Brasileira/ICMBio
Para garantir a existência desse uru, criticamente ameaçado de extinção, um grupo de pesquisadores capturou cinco indivíduos na Serra de Baturité (CE) e os encaminhou ao Parque das Aves, no Paraná (PR), para iniciar a reprodução assistida em cativeiro. O objetivo é dar início a uma nova população da subespécie, que poderá repovoar as matas nordestinas no futuro.
Essa operação para salvar o uru-do-nordeste faz parte de uma parceria com diversas organizações ambientais como a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - Aquasis, localizada em Caucaia, no Ceará (CE), e o Parque Foz do Iguaçu, no Paraná (PR), além de instituições privadas que colaboraram com a logística para o transporte dos animais
"A expectativa é de que essa ave se reproduza em um local seguro e adequado, visando a reintrodução dos descendentes no ambiente natural", explica o assessor de comunicação da Aquasis, Mikael Holanda.
Transporte do uru-do-nordeste — Foto: Divulgação
Declínio da população
O que tem levado essa subespécie ao declínio populacional são fatores já conhecidos de quem lida com animais ameaçados: perda de habitat, resultante do avanço da urbanização em áreas sensíveis; e caça predatória para consumo humano, além da introdução de predadores e doenças no habitat natural.
"A ave se encontra em uma situação frágil, estando presente em pouquíssimos lugares do nordeste brasileiro, em especial, no estado do Ceará, onde foi descrita para a ciência pela primeira vez", explica.
Uru-do-nordeste Odontophorus capueira plumbeicollis) foi descrito para a ciência depois de ser descoberto no Ceará — Foto: Ciro Albano
Como protegê-las?
Os primeiros esforços se deram na tentativa de encontrar ninhos naturais, para obtenção de ovos. "Mas a má sorte se fez presente por diversas vezes, em decorrência da predação por espécies nativas e invasoras, tais como lagartos, jabutis, cães e gatos, a ponto de dar a questão quase como perdida. Contudo, em uma última tentativa, realizada com armadilhas especiais instaladas na serra de Baturité, seis exemplares foram capturados, levantando a fé da equipe na corrida contra a extinção iminente da espécie", relembra Mikael.
"A partir de agora, só o tempo irá dizer se essa mobilização vai resultar no aumento da população da espécie. Temos boas perspectivas e esperamos colher os frutos desses esforços em breve", finaliza.
Subespécie de uru-do-nordeste corre sérios riscos de extinção — Foto: Ciro Albano
A jornada em busca da salvação do uru nordestino ganhou corpo através de doadores anônimos, além do aporte da Enel, que levantou recursos para custear o combustível de um avião cedido pela empresa Azul Linhas Aéreas, que saiu de Fortaleza (CE) com destino à Foz do Iguaçu (PR).