Reino: | Animalia |
Filo: | Chordata |
Classe: | Aves |
Ordem: | Passeriformes |
Subordem: | Tyranni |
Infraordem: | Furnariides |
Sibley, Ahlquist & Monroe, 1988 | |
Parvordem: | Furnariida |
Superfamília: | Furnarioidea |
Gray, 1840 | |
Família: | Scleruridae |
Swainson, 1827 | |
Espécie: | S. cearensis |
Esta ave foi originalmente descrita como uma subespécie, denominada Sclerurus caudacutus cearensis com base em três exemplares coletados por Emilie Snethlage e Oscar Martins em junho de 1910 na Serra da Ibiapaba, oeste do Ceará, região de divisa com o Piauí. Apesar de não integrar a série típica, foi mencionado no artigo de descrição um outro exemplar obtido por Francisco de Queiroz Lima em 1915 na Serra de Maranguape, também no Ceará (Snethlage 1924). Esta exclusão pode estar relacionada com a percepção de sutis diferenças entre populações das serras de embasamento cristalino como Baturité e planaltos sedimentares como o da Ibiapaba, sendo tal divergência indicada em estudos genéticos (d'Horta et al. 2011). O registro cearense do gênero chegou a se publicado antes da descrição do táxon (Pompeu Sobrinho 1916). No ano seguinte ao que recebeu nome, foi considerada como Sclerurus scansor cearensis (Cory & Hellmayr 1925). Quanto à sua distribuição cearense, foram divulgadas coletas procedentes da Serra de Baturité (Pinto & Camargo 1961), Chapada do Araripe (Teixeira et al. 1989) e Viçosa do Ceará (Girão et al. 2007), além de registros na Serras da Aratanha (Silva 2000), Machado (Girão et al. 2007), Uruburetama e Meruoca (Albano & Girão 2008), bem como nos municípios de Ubajara (Nascimento et al. 2005) e Crateús (Farias et al. 2005). No Piauí, sabe-se que ocorre no Parque Nacional da Serra das Confusões (Silveira & Santos 2012) e Serra Vermelha (Santos et al. 2012), enquanto que em Pernambuco, foi localizado em Exu (Roda 2002). Na Bahia, foi coletado por Ernst Garbe em Senhor do Bonfim (Pinto 1938), e sobre este exemplar único comentaram Pinto & Camargo (1961) que, em relação a Sclerurus cearensis e Sclerurus scansor, “destoa ela muito sensivelmente tanto das aves nordestinas, como das sulinas, na tonalidade mais pálida da plumagem em geral e do peito em particular, que é antes de uma cor de canela claro, do que ferruginoso; além disso, o bico, muito curto, mal chega a 20 mm de comprimento”. Uma espécie não identificada do gênero Sclerurus foi encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia (Parrini et al. 1999), habitando uma zona de exceção encravada na Caatinga entre as áreas de distribuição do vira-folha Sclerurus scansor e do vira-folha-cearense, e material coletado em análise inicial sugere tratar-se desta última (Vasconcelos et al. 2012). Em julho de 2015, Mateus Gonçalves Santos encontrou a espécie na Serra do Arrepio, no município baiano de Poções, sendo tal registro divulgado no Wikiaves e repetido diversas vezes, inclusive com gravações sonoras. Esta espécie tem filogenia estreitamente relacionada ao vira-folha Sclerurus scansor e ao vira-folha-de-garganta-cinza Sclerurus albigularis (d'Horta et al. 2013). Em 2003 esta ave integrou pela primeira vez a Lista Nacional da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, originalmente avaliada na categoria Vulnerável (VU), tendo sido atualizada em documento equivalente de 2023, justificada da seguinte forma: “…sua área de ocupação (AOO) calculada em 484 km². A população é severamente fragmentada, tendo mais de 50% de sua área de ocupação separada por grandes distâncias, não havendo fluxo gênico. Há declínio continuado da área e qualidade do habitat devido ao desmatamento para exploração madeireira e expansão agropecuária. Assim sendo, S. cearensis foi categorizada como Em Perigo (EN), pelo critério B2ab(iii)” (Araújo et al. 2023). Ao ser reconhecida como espécie plena, foi integrada às listas vermelhas internacionais em 2016, constando como Vulnerável (VU) na versão de 2023, com base em avaliação de 2019 que a considera como B2ab(ii,iii). Sua indicação mais antiga no Ceará (Rocha 1908) é acompanhada do nome vira-folhas, variando para cisca-folhas na Serra de Baturité (Semace 1992), folhaeiro e ciscador na Chapada do Araripe (Girão et al. 2014), além de designações ineficazes que tornariam a ave homônima a outras espécies, como fura-barreira e patinho (Silva 2000). No Ceará, o vira-folha-cearense integra lista vermelha estadual pioneira (Portaria SEMA N°145) que o considera desde 23 de setembro de 2022 como Vulnerável (VU), B2ab(iii). Em Planos de Manejo florestais no planalto da Chapada do Araripe, o vira-folha-cearense só foi encontrado nas áreas mais intactas, podendo ser afetado pelo modo de uso atual da vegetação nesse tipo de empreendimento (Ribeiro et al. 2016, Ribeiro et al. 2021, Ribeiro et al. 2021b, Lima et al. 2022).
Seu nome científico significa: do (grego) skleros = duro, rígido; e oura = cauda (Jobling 2010). O epíteto específico cearensis = latiniza o termo “cearense”; referente ou originário do estado do Ceará no Brasil. ⇒ (Pássaro de) cauda dura do Ceará.
Diferenças com o vira-folha Sclerurus scansor residiriam na vocalização e na carência de escamação escura no pescoço, partes superiores mais brilhantes contrastando menos com os arredores da região uropigiana, peito com avermelhado mais brilhante e bico mais curto (Remsen Jr. 2003).
Espécie monotípica (não são reconhecidas subespécies).
Com base em três exemplares, seu ninho foi classificado como “cavidade / com túnel / sob copa”, dentro do esperado em seu gênero. Os ninhos foram escavados em barrancos a uma altura média de 1,48 ± 0,22 m acima do solo. Seus túneis mediam 50,83 ± 4,25 cm e terminavam numa câmara globular expandida, onde uma pequena taça de gravetos suportavam os dois ovos brancos. Os ovos de um ninho mediam 25,7 × 19,8 mm e 24,3 × 19,6 mm, pesando 5,1 g e 4,5 g, respectivamente. Os dados de reprodução disponíveis para o gênero Sclerurus são notavelmente uniformes em todos os aspectos e correspondem às observações feitas sobre o vira-folha-cearense (Santos et al. 2022).
Endemismo das matas serranas do Estado do Ceará. A despeito da distribuição restrita à vegetação úmida e seca nas serras cercadas pela Caatinga, pode ser considerada relativamente comum onde vive, não habitando a depressão sertaneja (Girão & Albano 2008).